domingo, maio 07, 2006

NACIONALIZAÇÃO: O QUE A MÍDIA ESCONDE

Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás critica a cobertura da mídia grande e avisa: 49,5% das ações da Petrobrás estão em mãos estrangeiras

A cobertura que a grande mídia faz da nacionalização do gás na Bolívia tem como objetivo proteger os interesses dos investidores estrangeiros (que detêm 49,5% das ações da Petrobrás) e impedir o processo de integração latino-americana em curso no continente. A análise é do diretor de comunicação da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), o engenheiro Fernando Siqueira.

Em entrevista ao Fazendo Media, Siqueira defendeu o Decreto Supremo Nº 28.701 publicado pelo presidente da Bolívia Evo Morales na última segunda-feira (01/5), que devolveu ao Estado boliviano a propriedade dos hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) daquele país. O engenheiro criticou a cobertura da grande mídia, que tratou o caso como simples confisco por parte do governo boliviano, quando na verdade o decreto prevê indenizações às empresas.

"A crítica dos meios de comunicação está relacionada às ações da Petrobrás nas mãos de investidores estrangeiros", sustenta Siqueira. À época da assinatura do contrato de importação de gás da Bolívia, a mídia não se manifestou, pois 90% das ações da Petrobrás ainda pertenciam ao Estado brasileiro. No governo FHC, as empresas estrangeiras que exploram o gás na Bolívia obrigaram a Petrobrás a construir o gasoduto para o Brasil, pois precisavam de mercado consumidor para seu produto. Como o contrato firmado para importação do gás era do tipo take or pay (mesmo importando menos, o preço é único), durante cinco anos o Brasil importou 18 milhões de metros cúbicos e pagou por 25 milhões. "Foi o pior contrato da história do Brasil em todos os setores", diz o engenheiro.

Siqueira acrescenta que o projeto de lei para transporte e estocagem de gás natural, de autoria do senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), é muito mais lesivo ao interesse nacional do que a nacionalização do gás na Bolívia. De acordo com o diretor da Aepet, esse projeto estabelece a entrega dos dutos da Petrobrás que trazem o gás da Bolívia para a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Esta, por sua vez, entregaria os dutos para a Shell e a British Gas via licitações. O projeto foi aprovado nesta quarta-feira (3/5) na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e segue para a Comissão de Assuntos Econômicos e, depois, para a Comissão de Infra-Estrutura. Se aprovado, vai para a Câmara, sem precisar passar pelo plenário do Senado.

A grande mídia brasileira, na ânsia de defender os interesses dos EUA, está prestando um desserviço à integração latino-americana. O jornal O Globo de ontem (4/5), por exemplo, estampou três manchetes nesse sentido, na editoria de economia: "Dupla Lula-Kirchner enfrenta Morales-Chávez", "Casa Branca pede menos demagogia" e "'NYT' vê ressurgimento do populismo na região". O sobretítulo das reportagens refere-se a Morales de forma irônica, tratando-o por "muy amigo". Na página ao lado, a colunista Mirian Leitão sustenta tese de que o Brasil está sendo tímido em sua resposta à Bolívia, insinuando a necessidade de um confronto entre os governos. Na terça-feira (02/5), em manchete na página 21, o jornal afirmava: "Onda nacionalista ameaça integração regional". É importante ressaltar que toda a cobertura de O Globo sobre a nacionalização do gás boliviano tem ocupado a editoria de Economia, e não Internacional ou Política. Para Siqueira, a estratégia da mídia, pautada por Washington, é clara: "Os EUA querem dividir a América Latina. Agora querem jogar Evo contra Lula".

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