domingo, abril 27, 2008

Para diretor do FMI, o mundo acredita no Brasil, isso é que importa

Brasília - O diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista Paulo Nogueira Batista, prevê que os países emergentes vão ocupar o lugar das nações mais importantes do mundo nos próximos anos. Nesse cenário, segundo ele, o Brasil deve se destacar, em razão do enfraquecimento das principais economias, como a americana. De acordo com Nogueira Batista, o governo Bush trouxe “sorte” para o Brasil. Isso porque, avalia o economista, o presidente americano "geriu mal a política econômica e a política externa do seu país". Ele falou hoje (24) no seminário Perspectivas para o Brasil no Cenário Internacional, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O economista diz que o Brasil “é um país de sorte, pois tem muito mais credibilidade no exterior que na cabeça dos próprios brasileiros”. Ele atesta que constatou isso ao assumir o cargo no FMI e afirma que o mundo vê melhor o Brasil que os próprios brasileiros. “O peso natural do nosso país vem crescendo há muito tempo, independentemente da competência ou não dos nossos representantes.”

Segundo o diretor do FMI, o Brasil tem tudo para ser um grande pólo da América do Sul no cenário mundial. Ressalva, porém, que o país ainda é subdesenvolvido, o que persistirá por algum tempo. E lembra que países emergentes, como a China e a Índia, vêm desempenhando um papel estabilizador na economia mundial e, por isso, "também podemos ter vez". O conceito de outros governos em relação ao Brasil, afirma Nogueira Batista, é dado pelo conteúdo estrutural do país, e não em razão de um governo em particular. “A queda no peso das grandes potências, como a antiga União Soviética e a Europa Ocidental, deu lugar a emergentes como a China e a Índia, e o Brasil poderá ter espaço também nessa corrida no mercado internacional.” Agência Brasil.

terça-feira, abril 08, 2008

TERCEIRO MANDATO

Por (Eduardo Guimarães)


A mídia e a oposição tucano-pefelista (como vocês sabem, considero uma heresia chamar o PFL de "democratas") entraram em pânico com recente declaração do vice-presidente da República, José de Alencar, de que muitos brasileiros querem que Lula continue a governar o país depois de 2010. E também fizeram campanha contra a pretensão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de aprovar um projeto de reforma constitucional que lhe permitiria candidatar-se outra vez à reeleição. Em ambos os casos, os grandes meios de comunicação, o PSDB e o PFL, sempre juntos, produziram incontáveis matérias jornalísticas qualificando re-reeleições como "golpismo".

No caso de Lula, a coalizão tucano-pefelê-midiática só se acalmou depois que o presidente produziu veementes discursos contrários à obtenção de um terceiro mandato, mesmo sendo através de plebiscito. No caso de Chávez, a artilharia contra um seu terceiro mandato só amainou depois que o venezuelano foi derrotado no referendo à reforma constitucional em seu país. Eu mesmo, cheguei a considerar que um terceiro mandato para Lula atentaria contra a democracia. Porém, comecei a ser perseguido por dúvidas nessa questão. O que tem acontecido no país neste ano, com a desvairada ofensiva midiática para ferir de morte a suposta candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, tem me mostrado que, em termos de atentado à democracia, os inimigos de um terceiro mandato para o presidente da República na mídia e na oposição podem dar aulas. Mas não é só essa campanha antidemocrática da mídia e da oposição para difamarem uma mulher como Dilma, só porque acham que ela poderá ser o "poste" que Lula indicará para concorrer à sua sucessão, que me gerou dúvidas quanto a um terceiro mandato para o presidente configurar atentado à democracia.

Não entendo por que essa aversão da mídia e da oposição a mudança das regras do jogo com este em andamento, como seria um presidente permitir que seus aliados no Poder Legislativo propusessem mudança constitucional que lhe facultasse concorrer a outro mandato. Não entendo isso simplesmente porque, quando Fernando Henrique Cardoso apresentou a emenda da reeleição em 1997, a mídia, os tucanos e os pefelês não falaram em "golpismo". E tampouco estão falando disso num momento em que o partido do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, apresenta ao TSE colombiano 260.864 assinaturas pedindo que ele possa se candidatar a um terceiro mandato e o beneficiário da iniciativa, aplaude. A conclusão que inevitavelmente tem-se que extrair da conduta tucano-pefelê-midiática é a de que as regras "democráticas" que querem para Chávez ou Lula não foram as mesmas para FHC, para Alvaro Uribe e - lembro em boa hora - para o ex-presidente e delinqüente de extrema direita peruano Alberto Fujimori, que, no passado, arrancou um terceiro mandato para si sem que a mídia, o PSDB e o PFL dissessem um A.

Obviamente que não depende de minha vontade ou opinião Lula permitir que seus aliados no Congresso proponham reforma da Constituição que lhe permita re-reeleger-se. E o próprio presidente repudiou com veemência essa possibilidade. Porém, a mesma veemência de Lula foi usada pelo governador José Serra, em 2004, quando prometeu que se os paulistanos votassem nele para prefeito ele permaneceria no cargo até o fim de seu mandato. Serra rompeu o compromisso e a mídia, o PSDB e o PFL aceitaram o rompimento com uma docilidade "comovente".

Bem, eu estava hesitando em publicar este post, porque não tinha certeza de que esse seria um bom caminho para o país, mas num momento em que essas forças do atraso que são o PSDB, o PFL, a Veja, a Folha, o Estadão, os Globos e congêneres mostram que tentarão destruir qualquer candidatura que o PT e Lula propuserem, tudo muda de figura. Acho, portanto, que Lula e seus aliados deveriam considerar que, se é para enfrentar a sabotagem da mídia tucano-pefelista a qualquer candidatura petista que ameace se fortalecer, que essa candidatura seja a do presidente. A partir de agora, portanto, passo a defender que os aliados de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso apresentem ali proposta de um plebiscito no qual os brasileiros decidirão se querem ou não que o presidente possa disputar a própria sucessão em 2010. Essa é a minha nova opinião sobre esse assunto, mas gostaria de conhecer as opiniões de vocês.

domingo, abril 06, 2008

A telecracia brasileira

(copyright O Estado de S. Paulo, 28/08/05)


"Entre as pragas que devastam a política, uma é típica da civilização do consumo e abriga o campo do simbolismo. É conhecida como marketing. Origina-se na liturgia do poder, fazendo-se presente na História da humanidade como sistema de camuflagem para lapidar a imagem de governantes, imperadores, reis, príncipes, presidentes, políticos e celebridades. Quinto Túlio já o experimentava em 64 a.C. quando aconselhava o irmão Marco Cícero, famoso tribuno romano candidato ao consulado, a se apresentar como um ‘homem novo bem preparado para conseguir a adesão entusiasmada do povo’. César calculava os gestos públicos. Maquiavel ensinava o Príncipe a divertir o povo com festas e jogos. Luís XIV desfilava nos espetáculos que promovia. Napoleão era um pavão vestido de púrpura quando se coroou para receber a bênção do papa em Notre-Dame. Hitler foi treinado em aulas de declamação para agitar as massas, usou a cruz gamada para propagar o nazismo, podendo-se dizer que o marketing político ganha status profissional sob o comando de Joseph Goebbels, o ‘marqueteiro’ hitlerista.

Pois bem, essa engenharia de encantamento das massas aportou, há quatro décadas, no Brasil para agravar as mazelas de nossa incipiente democracia. Em 60 tivemos as primeiras campanhas marquetizadas. Começou com a mobilização das massas nas ruas. Passou pela adoção de símbolos, cores e cantos até ganhar, hoje, dimensão pirotécnica, quando elege a forma em detrimento de valores. Políticos são transformados em bonecos. Slogans se antecipam a programas (vide Fome Zero). Implanta-se a telecracia - extravagância comandada pela TV -, em que atores canhestros são ensinados a engabelar a fé dos tele-eleitores. Foi assim que ganhamos um Collor de postura apolínea, puxando, às carreiras, um cordão de jornalistas pelos arredores da Casa da Dinda, num cooper diário. Era o arremedo de Alexandre Magno, exibindo vigor, juventude, modernidade.

Não queremos apagar a liturgia que inspirou atitudes de nossos governantes. Alguns desenvolveram símbolos usados com maestria. Kubitschek estampava amplo sorriso para encantar as massas. Jânio, a caspa caindo no terno amarfanhado para se mostrar um homem do povo, brandindo, depois, uma vassoura para varrer a corrupção. Interessa, aqui, demonstrar que a crise exposta nas oitivas das CPIs tem muito que ver com a espetacularização da política feita por profissionais especializados em substituir o conteúdo pela forma, a verdade pela versão, a missão política pela mistificação. Não é de admirar que a representação política, plasmada pela cosmética do marketing, tenha criado imenso vácuo no meio social. Poucos crêem nos políticos.

A transformação da política em extensão do show business tem sido o ofício de uma classe treinada para ampliar os limites do Estado-espetáculo a fim de extrair dele grandes negócios. Os marqueteiros tupiniquins defendem-se dizendo que, nos EUA, a atividade está consolidada. Ocorre que os norte-americanos, mais racionais, se agrupam em torno de dois grandes partidos e não se deixam enganar facilmente. Ademais, lá não se vê o desperdício de tempos eleitorais gratuitos servindo de trampolim para a atividade circense da política. Aqui, o povo paga (com impostos) para ser enganado. E ainda compra gato por lebre. Vejam o que adquirimos. Primeiro, apareceu um sapo barbudo na vitrine, na ironia de Leonel Brizola. Bravo e tosco, foi rejeitado algumas vezes. Até que uma fada madrinha ajudou a operar o milagre. O sapo virou príncipe. Não fossem a altura e a barriga, o anfíbio, que virou modelo, até poderia desfilar no circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York). Barba aparada, ternos de grife bem cortados, cabelos com reflexos grisalhos, sorriso aberto, charme e ternura: eis o resplandecente ‘Lulinha paz e amor’. Arrebanha 53 milhões de votos. Até a primeira-dama ganha um personal stylist. (Não há nada contra a boa aparência, o bom gosto, o glamour. Mas qual o perfil verdadeiro, o interno ou o externo?)

A varinha de condão foi usada para empetecar atores pelo País afora, embalando candidatos com o lema vivaldino: ‘Fulano fez, fulano fará melhor.’ E, como as obras não aparecem, a reversão das expectativas se instala na consciência social, iniciando o desmoronamento dos genais ‘feitores’. Prefeituras e governos, incluindo o federal, estão encostados no monumental paredão de pasteurização construído com a argamassa do marketing. Uma profunda distância se formou entre a imagem dos entes governativos e a realidade social. Essa é a razão por que se impõem urgentes mudanças nas regras do jogo eleitoral de 2006. O debate político há de ocupar o centro das campanhas. A única maneira de resgatar a grandeza do pleito eleitoral é pela via da moralização dos métodos que terão influência sobre a decisão do eleitor.

No mais, não devemos ter esperança de que as coisas melhorem de imediato. A degradação da política é um processo em curso e resulta da antinomia entre o interesse individual e os interesses coletivos. Essa pertinente observação de Maurice Duverger, quando estabelece comparação entre o liberalismo e o socialismo, explica bem a nossa crise. A democracia liberal abriu grandes comportas para a corrupção e o socialismo revolucionário se arrebentou sob os destroços do Muro de Berlim. Estamos à procura de um novo paradigma capaz de resgatar a velha utopia expressa por Aristóteles, em sua Política, a de que o homem, como animal político, deve participar ativamente da vida da polis (cidade) para servir ao bem comum. A polis, entre nós, é um caso de negócio particular. Nas terras cabralinas, o bicho político tem até participado da vida da cidade, mais para colher dela os frutos de suas frondosas árvores que para regá-las com o suor.

Ante essa visão de descalabro, não há como deixar de relembrar o velho conceito de que a política é a arte de produzir monstros.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. E-mail: gautor@gtmarketing.com.br"