quarta-feira, maio 06, 2009

Pequim 2008

Pe. Zecchin
A abertura das Olimpíadas deslumbrou o mundo. A seqüência das Olimpíadas que já houve permite uma comparação entre os países anfitriões. Dentre os quais, a China se destaca com medalha de ouro. Havia expectativas, quanto à abertura dos jogos. Pelo que o mundo viu, todas as expectativas foram superadas.

Soma perfeita de beleza e disciplina, marcou, neste conturbado início de milênio, uma lição necessária. Onde o uso refinado da tecnologia, em nenhum momento, ofuscou a forte presença do humano. Mas do humano expresso em conjuntos, como colaboração e solidariedade.

Buscaram e trataram, com exímia criatividade, as mais distantes raízes do passado, atravessando o tempo e desembocando no presente, revelando um povo atracado à História que passou e fazendo a História que não morre.

O mais impressionante: tudo isso, mostrado ao vivo, em tempo e espaço reais. Não se tratava de uma montagem feita em estúdios, com correções e retoques, como se faz em filmes e novelas. O estágio atual do povo chinês, na densidade de sua cultura, foi mostrado com transparência facilmente legível para qualquer observador, em leitura acessível a todos os recantos do mundo. Este aspecto tem grande significado.

Pode-se discordar da ideologia política daquele país. Pode-se discordar dos métodos usados por Mao-Tse-Tung, na implantação do atual regime. De tantas outras coisas pode-se também discordar.

O que se impõe à nossa admiração e somos obrigados a reconhecer é o fato de que a China levou a sério a educação popular, fazendo dela o alicerce de todas as outras transformações. E o país que, nos inícios do século XX era considerado à margem da História, recluso nos limites de uma muralha aparentemente intransponível, penetra no século XXI sobre o patamar das grandes potências mundiais, impondo respeito a todas as demais nações e causando medo a muitas delas. Medo dentro da esfera econômica, acima de tudo. Se a China mostra que possui atletas notáveis, durante as Olimpíadas, essa não é a única, nem a melhor coisa, que tem para exibir.

Na abertura dos jogos, apareceu a alma de um povo unido, devotado às tradições, voltado para o futuro, consciente do presente.

Quero repetir: há aspectos da organização social chinesa que permitem discordância grave, do ponto de vista político, como também do religioso. O que pretendo enfatizar e valorizar é a importância e o cuidado efetivos dados à educação. E foi isso que mudou a História daquele país.

Se outras nações (como a nossa também) se orgulham com o rótulo de “democracia” e se orgulham com o rótulo da “cultura cristã”, por que não agem coerentemente, oferecendo às novas gerações uma educação que as faça preparadas para uma cidadania que imponha respeito, através de princípios éticos buscados no Evangelho, em busca de um convívio pacífico e civilizado?

Mas nós nos contentamos com os rótulos. Preservados estes, com toda sua falsidade, saímos correndo atrás dos interesses pessoais e imediatos, cultivando e adubando um individualismo materialista e pernicioso. Do qual nos queixamos amargamente, mas que não procuramos corrigir.

Vale aqui, com propriedade, a frase famosa do nosso cancioneiro: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”

A China fez e faz a sua hora. E chama para si todas as atenções do mundo. Enquanto nós continuamos esperando acontecer. Com os braços cruzados, as bocas caladas e os olhos tomados de miopia. Aplaudindo e elegendo mediocridades. Entronizando egoísmos doentios, para depois lamentar os desastres que acontecem com a nossa cumplicidade.

Fica-nos na memória a imagem de uma juventude sorridente, cantando e berrando ao mundo o amor que tem pela sua terra, pelo seu povo e pela sua História.

Foi essa a leitura que fiz do espetáculo que abriu os Jogos Olímpicos de 2.008. Não sei se li errado. Mas essa foi minha leitura.

http://www.bjd.com.br/detalhe_coluna.php?codigo=2238

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Postei essa mensagem aqui por concordar com ela e para prestar homenagens ao Padre Zecchin. Que deixou saudades...

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