sábado, junho 02, 2007

A direita brasileira se manifesta

A direita brasileira não tem escrúpulo mesmo. Governou o Brasil por décadas, séculos, muitas vezes à base de golpes e ditaduras, arrebentando o país e emudecendo gerações. Enquanto concentrava para alguns dos seus as terras, a renda, e as riquezas nacionais, jamais se importou com a multiplicação do caos social, da miséria e de toda sorte de desigualdades. E quando parece se importar, como agora, não é de maneira alguma para reverter ou amenizar o quadro de injustiças que ela produziu, mas para aprofundá-lo ainda mais.

A disputa em torno da redução da maioridade penal para 16 anos é um bom exemplo de como a direita trata a questão social: como caso de polícia. Morram os miseráveis, pois são mal educados, ignorantes de berço e não têm futuro mesmo! Cadeia para os filhos dos pobres! Tirem o garoto negro da sala e devolvam-no para a senzala! Na lógica perversa da direita, os problemas sociais se resolvem quando são colocados longe do alcance da vista.

Essa é a lógica de quem pensa o país só para si próprio e não quer dividi-lo com ninguém. Típico egoísmo de classe que revela toda a estupidez das elites brasileiras.

Ao mesmo tempo em que prega a redução damaioridade, a direita propõe, na emenda constitucional sobre o assunto, que o menor de idade não seja colocado nas mesmas prisões que os maiores de 18 anos. Isso demonstra que, no fundo, muito dessa investida não passa de pura disputa ideológica, pois a lei atual – o Estatuto da Criança e do Adolescente – já prevê esse tipo de separação, embora muitos Estados e municípios até hoje não tenham se adequado a essa exigência. Se a direita tivesse mais seriedade e compromisso social, poderia usar suas energias não para reduzir a maioridade, mas para cobrar a aplicação do ECA, exigindo do poder público a construção de espaços, de centros de ressocialização para atender os adolescentes em situação de risco.

Para recuperar milhares de jovens pobres que estão sendo ganhos pelo tráfico e todo tipo de crime, é necessário, antes de tudo, que Estado e sociedade ajam no sentido de prevenção, investindo para que esses meninos tenham escola, profissão, renda, casa, cultura, família e, sobretudo, expectativa de futuro.

O que nossa juventude precisa é de políticas públicas que atendam suas necessidades. O fato é que, se o país não crescer e não gerar oportunidades, o tráfico e o crime continuarão usando os adolescentes pobres. Com a diferença de que, se a redução da maioridade para 16 anos for realmente aprovada, passarão a ser recrutados os garotos de 15. E aí, possivelmente, os brilhantes representantes da direita brasileira no Congresso Nacional entrarão com outro projeto de emenda constitucional, de maneira a reduzir a maioridade para 14, 13, 12, 11, 10, 9 e até aonde permitir a cretinice dessa gente gananciosa e sem alma.

Gleber Naime é secretário nacional de Comunicação do PT

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