terça-feira, maio 20, 2008

A falácia anti-Lula

Artigo publicado na Folha de São Paulo (08/01), de autoria de ex-membro do esquecido Comunidade Solidária, do governo FHC, tergiversa sobre Brasil e Venezuela e revela enganosamente que se o IDH do Brasil fosse 0,9 em vez de 0,8, o Lula não teria sido eleito presidente. O que o “analista” não explica é como FHC foi eleito se o nosso IDH (em 94 e 98) era inferior a 0,8? Por que então Lula foi derrotado em 89, 94 e 98? FHC jamais teria sido eleito, se fosse verdadeira a lógica falaciosa e preconceituosa que diz que Lula só ganha eleição porque o Brasil é pobre e ignorante. Quem garantiu os votos de Lula, em 2002, foi a sua forte liderança política, a sua reconhecida história de lutas e o programa apresentado pelas forças que o apoiaram, à frente o PT.

O que garantiu a sua reeleição foram os empregos com carteira assinada (100 mil/mês em contraste com oito mil nos tempos de FHC), os programas sociais republicanos, com forte participação de todos os municípios, independente da cor partidária do prefeito, em especial o Bolsa Família que transfere renda às famílias mais pobres (é bom lembrar que o cadastro é feito pelos municípios e dos mais de 5.500, o PT só governa 400), o aumento real do salário mínimo, reduzindo a pobreza e a desigualdade e beneficiando os trabalhadores ativos, aposentados, pensionistas, pessoas com deficiência e idosos. Lula ganhou obtendo 49% dos votos no 1º turno e 61% no 2º turno. Os eleitores beneficiados pelo Bolsa Família estima-se em cerca de 25 milhões de pessoas, ou seja, menos de 20% do eleitorado inscrito.

Antes, o Brasil era governado só para São Paulo e o Sul, agora é para o país inteiro. Ao contrário do que tentam difundir, não só os bolsões de pobreza garantiram a reeleição de Lula, mas a economia em expansão e as políticas públicas que visam eliminar estes bolsões. Ninguém mais do que Lula sabe o que é passar fome e quer acabar com a pobreza promovendo a emancipação social, econômica, política e cultural dos pobres.

Políticas sociais – republicanas e garantidoras de direitos - como o SUAS, que rompe com a cultura “assistencialista”, e as de promoção das mulheres, dos negros e de outros segmentos historicamente discriminados, como os sem-terra, quilombolas, índios, pessoas com deficiência, idosos e o segmento GLBT, não são passivas – são políticas afirmativas e de defesa de direitos da cidadania. A diferença é que Lula governa também para os pobres. Em 2006, pude constatar como secretário do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que os prefeitos oposicionistas não faziam - como não fazem - oposição aos programas sociais do governo federal. Isto é reconhecimento.

O Brasil tem uma política externa independente, solidária com os países da América Latina e da África, sem perda de relação com os países desenvolvidos. O presidente Lula é um líder democrático – não pensa em botar ninguém no lixo. Os seus críticos mais raivosos fazem comparações entre ele e o presidente Hugo Chaves, da Venezuela, buscando identidades, como a defesa dos pobres e os altos índices de popularidade. Esquecem-se das trajetórias políticas diferenciadas e do grau de organização dos partidos e da sociedade em seus países. A América do Sul despertou contra a opressão e as desigualdades que infernizam a população do continente. O PT, com seus erros e acertos, é o maior partido da esquerda latino-americana, respeitado mundialmente.

Plebiscito e referendo são instrumentos democráticos – a Constituição Brasileira os prevê. Quem violou a Constituição para se reeleger não foi Lula. A democracia do Lula é aquela que ajudou a construir em toda a sua história, desde o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo até as Diretas Já e a Constituinte, passando pela fundação do PT e da CUT e pela luta em favor da redemocratização do país. A oposição truculenta, apoiada por parcela da grande mídia, tentou “melar” a reeleição de Lula. A sua liderança e as conquistas do seu governo, a organização da sociedade civil, o apoio e a força democrática do povo foram maiores do que a falácia e o golpismo de adversários.

O Brasil é soberano e o seu povo está precavido em relação a grandes grupos privados que se apossaram das nossas riquezas. Agora, aqui, há contraponto democrático-popular. Há muito por fazer, como na reforma agrária e na educação, mas a desgraça das oposições é ter de enfrentar um presidente que tem clara noção do seu papel histórico e que faz um governo para todos. Lula não é apenas símbolo, mas um presidente reconhecido pelos seus pares mundo a fora e, sobretudo, pelo povo brasileiro. Democracia é respeitar isto.

Osvaldo Russo, 59, é estatístico e assessor da Câmara Legislativa do Distrito Federal, foi chefe de gabinete do Ministério da Educação e secretário nacional de Assistência Social

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